O campus da Universidade de Brasília – UnB já estava sugerido no desenho de Lucio Costa no item número 15 do Relatório do Plano Piloto, sob a denominação de “Cidade Universitária”. Em que pese a pouca definição gráfica da localização da universidade no desenho inaugural, é notável constatar que no transcurso do projeto urbano da cidade a UnB tenha se entrosado tão bem ao arcabouço espacial e simbólico do Plano Piloto.
O núcleo histórico de ocupação do campus define um conjunto de novas experiências construtivas no complexo projeto de consolidação de Brasília como nova capital. Superados os desafios técnicos, construtivos, bem como um cronograma político hercúleo para a inauguração da cidade, outra etapa se iniciou. Para continuar a implantação da cidade foram consideradas as questões de otimização do canteiro, as tecnologias de pré-fabricação, bem como a larga escala das demandas de espaços e edifícios. O campus da UnB se configura como uma experiência singular nesta etapa histórica da construção da cidade, com a participação de Lelé e Niemeyer, Sergio Rodrigues, Alcides da Rocha Miranda, Glauco Campello, bem como dos membros do corpo técnico da universidade.
O projeto do CEPLAN, a OCA, a Faculdade de Educação, o protótipo habitacional para estudantes, os blocos dos Serviços Gerais, os blocos da Colina, o Instituto de Teologia, o ambulatório e o Instituto de Teologia e o Instituto Central de Ciências – ICC configuram um conjunto de experiências de espaço e tecnologia muito potente na história da arquitetura brasileira pós-1960. O CEPLAN se constitui como núcleo de projeto e construção daquele que seria o campus Darcy Ribeiro. Trata-se de uma instância voltada para o planejamento da UnB, como uma tomada de posse de sua missão institucional. Para otimizar este canteiro, o uso de pré-moldados em concreto em larga escala é adequado ao conjunto de edifícios que possibilitam o funcionamento efetivo da UnB. Todas estas obras também redefinem a linguagem da arquitetura do campus, marcando a inserção da Universidade na paisagem urbana da cidade, constituindo-se também como uma experiência arquitetônica notável para a história da arquitetura brasileira.
Entretanto, a obra de arquitetura mais reconhecida é o Instituto Central de Ciências – ICC, popularmente conhecido como “Minhocão”. Trata-se do edifício mais representativo da UnB, correspondendo a própria organização funcional da Universidade desde sua concepção inaugural. O processo de construção contém contribuições pioneiras de tecnologia da construção, condizentes com a estrutura arrojada de construir uma Universidade e consolidar a nova Capital. O ICC caracteriza-se por ser uma megaestrutura de concreto protendido, com mais de 700 m. de comprimento, que integra diversas faculdades e abre-se para jardins e para a paisagem do campus. O ICC articula espaços públicos e os principais edifícios da UnB – Reitoria, BCE, RU – consagrando sua centralidade como ponto de promoção de convivência e participação da comunidade acadêmica da vida e do cotidiano universitário.
É justamente este conjunto de arquiteturas que faz do campus Darcy Ribeiro um lugar de enorme potencial de interesses difusos pela arquitetura de Brasília e deve continuadamente ser objeto de estudos, pesquisas, demandando ações de documentação e conservação, por seu pioneirismo revolucionário.
por Eduardo Pierrotti Rossetti, REVISTA ARQUI #9 – 2018/2